segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Vida Virtual

O jornalista e escritor Ruy Castro, autor de diversas e importantes biografias e livros-reportagem, destacou em artigo na Folha de São Paulo (sábado, 14 de fevereiro) a nossa "Vida Virtual". Uma análise da passagem das mídias físicas para o mundo virtual. Do que pode se tornar o nosso mundo midiático e nós mesmos.

Leia o artigo abaixo:
RUY CASTRO
A vida virtual

RIO DE JANEIRO - O jornal impresso é uma mídia física. E, como todas as mídias físicas, corre sério perigo. Nem o tubarão australiano Rupert Murdoch quer mais "imprimir sobre árvores mortas", como ele ingratamente disse. O jornal do futuro será um celular a ser levado na palma da mão, inclusive para o banheiro, que sempre foi o melhor lugar para ler jornal.
O livro também é uma mídia física. E, como tal, igualmente está com as barbas de molho. Para o seu lugar, já existe o (por enquanto, só nos EUA) Amazon kindle, um leitor de livros eletrônicos do estoque invisível da Amazon, a famosa loja virtual. A engenhoca "baixa" milhares de títulos, do pioneiro "Le morte d'Arthur", de 1485, ao último escritor afegão, irlandês ou africano inventado pelas editoras.
O CD também é uma mídia física, e já quase em estado ectoplásmico. Ninguém mais pensa em comprar discos. Com dois toques num aparelhinho, a música que você quer surge de uma discoteca no espaço e penetra para sempre no seu iPod, indo fazer companhia às 180 horas de música que você já armazenou e que, um dia, pretende ouvir, todas de uma vez.
E o DVD é outra mídia física em avançado estágio de decomposição. Assim como se "baixam" músicas, "baixam-se" filmes, legal ou ilegalmente -de "A Vida de Cristo", de 1904, ao último Woody Allen, que ele ainda nem terminou de filmar-, para ser vistos numa telinha de três polegadas. Se você for monoglota, o pirata "baixa" as legendas em português, e estamos conversados.
De repente, concluo que, como o jornal, o livro, o CD e o DVD, eu também sou uma mídia física. Donde, como eles, candidato à extinção. Talvez um dia me transforme num espírito puro, virtual. Mas, se puder escolher, vou preferir impuro -não sei se a vida apenas virtual tem essa graça toda.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nunca a extinção do papel foi tão bem escrita e esclarecedora! Porém, infelizmente, muito me entristece...
Algumas coisas para a humanidade são necessárias e inevitáveis, mas não acho que os adoradores de boas páginas de livros, como eu, queiram trocar o cheiro de uma página novíssima, ou de uma página amarelinha que indica tempo, por uma tela de três polegadas, apenas bateria e que em nada exprime originalidade...
É aquela coisa da oferta e da procura...e no meu ponto de vista a procura demorará a chegar, até porque a oferta está mais longe ainda...
Participei de uma palestra com o grande jornalista Ricardo Kotscho, que, não acha que o fim dos jornais, revistas, cds etc, esteja próximo, eu participo da mesma opinião. Felizmente ou infelizmente a esperança ainda é a última que morre, e eu acredito que ainda hajam jornalistas engajados, e há! Acho que tem espaço para todos, um com mais procura, outros com menos, mas nenhum inexistente!